quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Patrizia Donatella Streparava



José


E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio – e agora?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José!
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?
(Carlos Drummond de Andrade)

Lembranças

Onde seremos sempre queridos e bem recebidos
(The long and winding road-The Corrs - Youtube.com/Vsbonvenutoleg)

Faça amor, não faça guerra

Se procurar bem você acaba encontrando.
Não a explicação (duvidosa) da vida,
Mas a poesia (inexplicável) da vida.

Carlos Drummond de Andrade

A simplicidade de Deus enlouquece os homens

Que ninguém se engane, só se consegue a simplicidade através de muito trabalho.
Clarice Lispector

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Para sempre patinho feio

Se

Se eu fosse um cisne, eu teria partido
Se eu fosse um trem, eu estaria atrasado
E se eu fosse um homem bom
Conversaria com você
Mais frequentemente do que faço

Se eu estivesse adormecido, poderia sonhar
Se eu estivesse com medo, poderia me esconder
Se eu enlouquecer
Por favor não coloque os seus fios no meu cérebro

Se eu fosse a lua, eu seria frio
Se eu fosse uma regra, eu a quebraria
Se eu fosse um homem bom
Eu entenderia as distâncias entre os amigos

Se eu estivesse sozinho, eu choraria
E se eu estivesse com você, estaria em casa e enxuto
E se eu enlouquecer
Você ainda me deixaria participar do jogo?

Se eu fosse um cisne, eu teria partido
Se eu fosse um trem, estaria atrasado novamente
E se eu fosse um homem bom
Conversaria com você
Mais frequentemente do que faço

Frio na Alma

Queria que Você Estivesse Aqui

Então, então você acha que consegue distinguir
O Paraíso do Inferno
Céus azuis da dor
Você consegue distinguir um campo verde
de um frio trilho de aço?
Um sorriso de um véu?
Você acha que consegue distinguir?

Fizeram você trocar
Seus heróis por fantasmas?
Cinzas quentes por árvores?
Ar quente por uma brisa fria?
Conforto frio por mudança?
Será que você trocaria
Uma pequena participação na guerra
Por um papel principal numa cela?

Como eu queria
Como eu queria que você estivesse aqui
Somos apenas duas almas perdidas
Nadando num aquário
Ano após ano
Correndo sobre o mesmo velho chão
O que encontramos?
Os mesmos velhos medos
Queria que você estivesse aqui

domingo, 5 de outubro de 2014

Congregação Cristã no Brasil

A grade
Autor: Carl August Sandburg
Agora que a mansão está concluída, os trabalhadores começam a grade. São barras de ferro com pontas de aço capazes de tirar a vida a quem se arrisque sobre elas. Uma obra prima que impedirá a entrada de famintos, crianças de rua e vagabundos. Vagabundos de toda espécie. Entre as barras e sobre as pontas de aço nada passará exceto a chuva, a morte e o dia de amanhã.
Sobre o autor: Carl August Sandburg
Carl August Sandburg (1878 – 1967), foi poeta, historiador, novelista e folclorista. Nasceu nos EUA e tornou-se conhecido por suas poesias e sua biografia de Abraham Lincoln, pelas quais recebeu o Prêmio Pulitzer